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DO LIXO À CONSTRUÇÃO

Jovens criam biocimento com papel e fibra de coco

Projeto sustentável de estudantes da rede pública em Serrinha pode transformar a realidade de comunidades carentes

Por Acácia Vieira

07/06/2025 - 18:57 h
professor Thales Nascimento, os jovens Maria Eduarda Meireles, Felipe Macedo, Thiago Ferreira e Guilherme Paiva criaram um biocimento sustentável
professor Thales Nascimento, os jovens Maria Eduarda Meireles, Felipe Macedo, Thiago Ferreira e Guilherme Paiva criaram um biocimento sustentável -

Transformar lixo em solução foi a ideia encontrada por um grupo de estudantes do Centro Territorial de Educação Profissional do Sisal, em Serrinha, para resolver os problemas de descarte inadequado de papel do colégio e a falta de pavimentação em comunidades carentes.

Com orientação do professor Thales Nascimento, os jovens Maria Eduarda Meireles, Felipe Macedo, Thiago Ferreira e Guilherme Paiva criaram um biocimento sustentável feito a partir de papel descartado e fibra de coco. A ideia, que foi colocada em prática em março de 2024, nasceu do incômodo com o descarte excessivo de papel na própria escola.

Tijolos de biocimento sustentável feito com papel e fibra de coco
Tijolos de biocimento sustentável feito com papel e fibra de coco | Foto: Divulgação

“Tem até um acervo que geralmente guarda os papéis de prova e atividades recolhidos dos alunos, e a gente decidiu achar uma forma de reutilizar esse material”, lembra Guilherme Paiva. “Achamos um documentário que mostrava engenheiros usando uma porcentagem de papel na produção de concreto, junto com areia, cimento e brita. Aí pensamos: por que não tirar 100% da areia e usar apenas o papel? Claro que foi um processo longo até chegar nas medidas certas e no traço atual do nosso projeto”, completa.

Para produzir o biocimento, os estudantes utilizam brita, papel triturado, fibra de coco e cimento. “Nosso primeiro protótipo só tinha cimento e papel. Depois, colocamos a brita para aumentar a resistência do bloco e, mais adiante, incluímos a fibra do coco, que também contribuiu para a durabilidade”, explica Thiago Ferreira.

O material pode ser utilizado na fabricação de blocos de concreto, com custo de produção cerca de 9% mais barato do que os blocos comercializados em Serrinha. De acordo com os alunos, os blocos já aram por análises para garantir a qualidade do produto, além de testes de compressão e impermeabilidade que atingiram resultados superiores à do mercado atual. “A produção é feita aqui mesmo no laboratório de edificações da escola, onde misturamos os materiais na betoneira e colocamos nas formas. A gente ainda reutiliza óleo de cozinha, doado pela própria escola, para untar as formas”, conta Thiago.

O projeto não se limita às paredes da escola. O professor orientador está em processo de viabilizar a expansão da iniciativa para o Conjunto Penal de Serrinha, onde a produção dos blocos poderá ser realizada pelos internos como atividade de ressocialização. A proposta já foi encaminhada, mas ainda aguarda autorização do Estado para ser colocada em prática.

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“Quando o nosso projeto realmente se tornar uma atividade ressocializadora no presídio, vamos alcançar um impacto ainda maior (...) Não é só fazer um bloco qualquer. É um bloco sustentável, feito a partir de resíduos que iriam para o lixo. Isso traz consciência, tanto para os estudantes quanto, futuramente, para os internos”, destaca Thales Nascimento, professor orientador do projeto.

A transformação, no entanto, já começou na comunidade. Uma moradora vizinha à escola foi a primeira a receber, gratuitamente, uma calçada feita com os blocos sustentáveis, servindo como o piloto da iniciativa. “Vai ser a primeira calçada que a gente vai entregar do nosso projeto. Já temos a foto dela prontinha. Só não divulgamos ainda porque era segredo”, completa o orientador.

Da sala de aula para o mundo

A iniciativa foi finalista da Solve for Tomorrow Brasil, programa global da Samsung que estimula soluções sustentáveis com base em ciência, tecnologia e inovação. Os alunos de Serrinha ficaram entre os dez melhores do país, conquistaram R$ 33 mil em prêmios e ainda levaram o troféu de menção honrosa por vencerem a votação do júri popular.

Calçada com tijolos de biocimento sustentável
Calçada com tijolos de biocimento sustentável | Foto: Divulgação

Além da criatividade da equipe, eles afirmaram que o apoio da escola foi essencial em cada etapa do processo. Segundo Guilherme, a estrutura da unidade e o incentivo dos professores foram fundamentais para tirar a ideia do papel. “Eles nos ajudaram a dar foco ao nosso projeto pelo lado do empreendedorismo e da parte social. A gente começou a fazer algo que é, ao mesmo tempo, inovador, sustentável, econômico e resistente”, reforça Thiago.

Impacto Ambiental

Além do impacto direto na vida da comunidade carente do interior baiano, a bióloga e especialista em sustentabilidade Flora Assis destaca que iniciativas como essa mostram que é possível criar soluções íveis com grande efeito ambiental e social. “Você encontrar saídas para diminuir essa porcentagem de emissão de gás carbônico é fundamental. Esse tipo de projeto traz isso de forma prática e eficaz, ao reaproveitar resíduos que iriam para o lixo”, afirma.

A pauta ambiental ganha ainda mais relevância diante da realização da COP-30, conferência climática da ONU que será sediada pelo Brasil em novembro deste ano, em Belém, no Pará. A conferência reconhece a educação como ferramenta-chave para a transição verde e valorização de soluções locais. E, os estudantes de Serrinha são exemplos disso.

Calçada feita com bloco de biocimento sustentável
Calçada feita com bloco de biocimento sustentável | Foto: Divulgação

"É importante que eventos como esse sejam trazidos para o Brasil, pois eles dão visibilidade à pauta da sustentabilidade e valorizam quem está criando negócios sustentáveis em todo o país. Mas é importante não se limitar a esses grandes eventos. Precisamos dar continuidade. E é exatamente isso o que esses meninos estão fazendo: gerando conhecimento com efeito prático", completou.

Futuro do Biocimento

O futuro do projeto já está traçado. A ideia do grupo é transformar o bloco sustentável em uma startup e alcançar um mercado maior, para além de Serrinha. Segundo os estudantes, o próximo o é patentear o produto e buscar capacitação com o apoio do Sebrae.

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