SUSTENTABILIDADE
Economia verde e circular: conceitos-chave para um futuro sustentável
Especialistas explicam os conceitos e desfazem mitos
Por Loren Beatriz Sousa

Faltam seis meses para a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30), que ocorrerá em Belém, no Pará. Até lá, temas como sustentabilidade, economia verde, economia circular, preservação ambiental e responsabilidade social tendem a ocupar o centro dos debates públicos, empresariais e educacionais no Brasil. Mas entre esses assuntos, o que significam exatamente os conceitos de economia verde e economia circular?
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Segundo o advogado e escritor, sócio da ‘AC Governança & Sustentabilidade’, Augusto Cruz, a economia verde é um modelo que integra o desenvolvimento sustentável às atividades econômicas, promovendo o bem-estar humano, equidade social e a redução de riscos ambientais e a escassez de recursos. Para ele, trata-se de uma transição para uma sociedade mais inclusiva e sustentável em suas dimensões ambiental, social e econômica.

“Remete ao conceito de finanças sustentáveis, as quais consistem na integração critérios ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG) às decisões estratégicas e, principalmente, de investimento, gerando para o negócio, com um olhar de longo prazo, mitigando-se riscos não-financeiros preservando-se o capital, ou gerando oportunidades de novos negócios”, explica.
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Já a economia circular, definida pela embaixadora do ‘Movimento Reinventando Futuros’, direção geral na LB Cultura Circular e criadora do primeiro Fórum Nordeste de Economia Circular, Liu Berman, é um modelo mais inteligente e sustentável de produção e consumo.

“Em vez de seguir o modelo antigo de ‘extrair, produzir, usar e jogar fora’, a economia circular busca aproveitar os recursos ao máximo, reaproveitando, consertando e reciclando produtos para que eles durem mais e causem menos impacto no meio ambiente. Economia circular é usar melhor, desperdiçar menos e incluir mais gente”, definiu.
Mitos sobre economia circular e verde
1- Economia circular é sinônimo de reciclagem
Segundo Liu Berman, “a reciclagem é apenas uma das últimas etapas desse modelo. A verdadeira circularidade começa muito antes do descarte, com design inteligente, reuso, compartilhamento, manutenção, regeneração e novos modelos de negócio”.
2- Ativismo ambiental
Augusto Cruz explica que “a economia verde tem de ser compreendida como uma oportunidade para as empresas realizarem novos negócios e a implementarem ações para mitigar riscos ao seu empreendimento. Não se trata de ativismo ambiental, ainda que traga efeitos positivos para o meio ambiente e, consequentemente, para as pessoas”.
3- Circularidade é só para grandes empresas
Outro mito contestado por Liu é a ideia de que apenas grandes corporações podem aplicar práticas circulares. “Pequenos negócios, empreendedores locais e cooperativas têm um papel essencial nesse processo, muitas vezes são até mais ágeis e criativos para adaptar soluções de reuso, reaproveitamento de materiais e modelos colaborativos”.
4- Sustentabilidade custa caro
Tanto Liu quanto Augusto rebatem o argumento financeiro usado para adiar ações sustentáveis. Para Berman, “embora existam custos iniciais, os benefícios a médio e longo prazo são evidentes: redução de desperdícios, fidelização de clientes, economia de insumos e maior alinhamento com políticas públicas e incentivos fiscais”. Cruz afirma que “há fundos de investimento e operações financeiras sustentáveis que movimentam bilhões de reais no país e são ados por grandes empresas para seus projetos focados em sustentabilidade e em ESG”.
5- Crescimento econômico e sustentabilidade são incompatíveis
“Alguns ainda veem a circularidade como incompatível com o crescimento econômico. Pelo contrário, ela propõe um crescimento regenerativo, que desacopla desenvolvimento de destruição ambiental. É uma resposta estratégica aos limites do modelo linear, que extrai, usa e descarta”, explica Liu Berman. Augusto Cruz complementa que “no mínimo, metade do PIB mundial é dependente da natureza, com algumas análises apontando para uma dependência ainda maior. Uma pesquisa da S&P Global Sustainable revela que 85% das maiores empresas do mundo têm uma dependência significativa da natureza em suas operações diretas”.
Esse olhar ganhou força com a recente aprovação do Plano Nacional de Economia Circular, em maio deste ano. O documento, que traz 18 objetivos e mais de 70 ações, estabelece diretrizes para promover a circularidade na produção e no consumo em todo o país nos próximos dez anos.
GLOSSÁRIO DE CONCEITOS-CHAVE
ECONOMIA VERDE
ACORDO DE PARIS:
É um pacto internacional sobre mudanças climáticas, firmado em 2015 por ocasião da COP21 em Paris, e que visa limitar o aquecimento global. O objetivo principal é manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2°C acima dos níveis pré-industriais, com esforços para limitar esse aumento a 1,5°C. À época, o Acordo foi ratificado por 195 países.
CAPITALISMO DE STAKEHOLDERS:
Consiste em uma visão do capitalismo em que as empresas buscam criar valor a longo prazo, considerando não apenas os acionistas (shareholders), mas também todas as partes interessadas (stakeholders). Isso inclui empregados, clientes, fornecedores, comunidades, o meio ambiente e as futuras gerações, além de promover o bem-estar social e a sustentabilidade.
DESCARBONIZAÇÃO:
Processo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, principalmente o dióxido de carbono (CO2). Isso envolve a transição do uso de fontes de energia fósseis para fontes de energia renováveis, a redução do consumo de energia, a promoção da eficiência energética e outras ações para reduzir as emissões líquidas de gases de efeito estufa.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
Reside na busca pelo equilíbrio entre o crescimento econômico, o desenvolvimento social e a proteção ambiental, garantindo que o planeta possa sustentar a vida humana a longo prazo, assegurando-se que as gerações atuais supram suas necessidades sem comprometer a capacidade de as futuras gerações atenderem às suas próprias necessidades.
DIVERSIDADE E INCLUSÃO:
Diversidade refere-se à presença de diferenças entre indivíduos, como raça, gênero, idade, orientação sexual, deficiência e outros marcadores. Já a inclusão consiste no ato de assegurar que todos, independentemente das suas diferenças, sejam respeitados, valorizados e tenham as mesmas oportunidades, direitos e deveres.
ESG (ASG):
Conjunto de práticas ambientais, sociais e de governança que as empresas devem adotar para promover a sustentabilidade a longo prazo (PR 2030 ABNT).
GOVERNANÇA CORPORATIVA:
Governança corporativa é um sistema formado por princípios, regras, estruturas e processos pelo qual as organizações são dirigidas e monitoradas, com vistas à geração de valor sustentável para a organização, para seus sócios e para a sociedade em geral. Esse sistema baliza a atuação dos agentes de governança e demais indivíduos de uma organização na busca pelo equilíbrio entre os interesses de todas as partes, contribuindo positivamente para a sociedade e para o meio ambiente (IBGC).
MERCADO DE CARBONO:
Mecanismo econômico que visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa, por meio da comercialização de créditos de carbono. Cada crédito equivale a uma tonelada de CO2 que foi removida da atmosfera ou que não foi emitida. O objetivo é incentivar a redução de emissões de GEE e contribuir para a mitigação das mudanças climáticas.
SUSTENTABILIDADE:
Significa garantir que as ações do presente não comprometam a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades, a partir do equilíbrio do tripé econômico, social e ambiental.
SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA:
Envolve a integração de aspectos sociais, ambientais e econômicos na gestão dos negócios. É a busca por um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, a proteção do meio ambiente e o bem-estar social, garantindo que as necessidades das atuais gerações sejam atendidas sem comprometer as futuras.
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA:
É a mudança de uma matriz energética que se baseia em combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão) para uma matriz baseada em fontes renováveis ou de baixa emissão de carbono.
ECONOMIA CIRCULAR
BIOMIMÉTICA:
Inspiração na natureza para criar soluções circulares. Ex: embalagens biodegradáveis que imitam cascas de frutas.
CADEIA DE VALOR CIRCULAR:
Relação entre todos os atores (empresa, fornecedor, consumidor, cooperativa, etc.) comprometidos em manter o valor dos produtos e materiais o máximo de tempo possível.
CICLO FECHADO:
É quando um produto ou material é constantemente reutilizado ou reciclado, voltando para o início do processo produtivo, como num ciclo que nunca termina.
DESIGN CIRCULAR:
É o planejamento de produtos para que sejam duráveis, reparáveis, reutilizáveis e recicláveis, desde o início de sua criação.
ECONOMIA DE COMPARTILHAMENTO:
Uso coletivo de bens e serviços, como carros por aplicativo, coworkings, guarda-chuvas compartilhados etc.
LOGÍSTICA REVERSA:
Processo de devolução de produtos ou embalagens após o uso, para serem reciclados, reaproveitados ou descartados corretamente.
OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA:
Quando um produto é projetado para parar de funcionar ou ficar ultraado rapidamente, incentivando o descarte e a compra de um novo.
RECICLAGEM:
Transformar resíduos em matéria-prima para novos produtos. Ex: garrafa PET virando tecido.
RECONDICIONAMENTO:
Processo industrial que restaura bens usados para que tenham desempenho equivalente ao novo, sem vínculo com o fabricante original.
REPARO OU REPARABILIDADE:
Capacidade de consertar um produto em vez de descartá-lo. Um celular com peças trocáveis é um exemplo.
REÚSO:
Uso repetido de um produto sem modificar sua forma original, podendo ser para o mesmo ou outro propósito.
REUTILIZAÇÃO:
Usar novamente um produto sem transformá-lo. Ex: potes de vidro de alimentos viram recipientes para outros usos.
TRANSIÇÃO JUSTA:
Princípio que garante que a mudança para uma economia circular ocorra com inclusão social, respeito aos direitos trabalhistas e erradicação da pobreza.
UPCYCLING:
Dar uma nova vida a materiais descartados, valorizando-os. Ex: pneus viram móveis ou obras de arte.
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